Inquérito diz que manifestante preso no Rio não portava coquetel molotov - Anonymous São Carlos

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Inquérito diz que manifestante preso no Rio não portava coquetel molotov

Polícia Civil disse que estudante levava artefato ao ser preso. Depoimento de policial e vídeo contradizem essa versão oficial.



Depoimento do policial militar que prendeu o estudante Bruno Ferreira Teles na segunda-feira (22) durante protesto perto do Palácio Guanabara contraria todas as notas divulgadas pelas polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro na noite de protesto e no dia seguinte. A declaração do policial consta de inquérito sobre a prisão de Bruno, que foi preso sob a suspeita de lançar coquetéis molotov contra policiais. Houve confronto na manifestação, e sete pessoas foram presas.
As duas polícias divulgaram, oficialmente, que coquetéis molotov haviam sido apreendidos com um preso. Mas um policial afirma que nenhum coquetel molotov foi encontrado com o rapaz. O policial relata que um manifestante não-identificado lançou o primeiro coquetel molotov e que, logo depois, outra bomba foi acesa e entregue a Bruno, que a lançou. O Ministério Público disse que está analisando o processo sobre a prisão do manifestante e que deve anunciar uma decisão na próxima segunda-feira (29).
Coquetéis molotov
Nos confrontos da noite de segunda-feira (22), perto do Palácio Guanabara, sete pessoas foram presas. Horas depois do início do tumulto, a Polícia Militar do Rio divulgou em seu Twitter oficial a informação de que 20 coquetéis molotov tinham sido apreendidos com um manifestante. Minutos depois, uma nova mensagem: duas pessoas tinham sido presas. Uma portando material explosivo, outra por desacato.


Por volta de 0h, foi a Polícia Civil que divulgou um balanço: duas pessoas presas, um menor apreendido, cinco pessoas autuadas. E um número diferente da Polícia Militar. Teriam sido 11 os coquetéis molotov apreendidos. Na mesma nota, a Polícia Civil afirmava textualmente que Bruno Ferreira Teles era o único preso por portar artefato explosivo. Ele também foi acusado de desacato. Na manhã seguinte, a Polícia Militar, em nota oficial reafirmou a apreensão de 20 coquetéis molotov com um dos presos.
Depoimento
Em depoimento, um dos PMs diz que um manifestante não identificado lançou o primeiro coquetel molotov. Logo depois, outro coquetel foi aceso e entregue a Bruno, que segundo o policial militar, também o lançou. O mesmo policial afirmou que nenhum coquetel molotov foi encontrado com o estudante. Essa declaração contraria todas as notas divulgadas pela Polícia Militar e Polícia Civil divulgadas na noite da manifestação e também no dia seguinte.
Madrugada na cadeia
O juiz do plantão daquela noite, que negou o pedido relaxamento da prisão em flagrante de Bruno, argumentou que, pela narrativa dos policiais militares que o prenderam, o estudante teria cometido o crime de resistência e de lesão corporal. Citou ainda que Bruno teria dado um soco no pescoço e uma unhada em um dos policiais, havendo assim prova de existência dos crimes. Bruno passou a madrugada na cadeia. Na manhã de terça-feira (23), o presidente da comissão criada pelo governo do Rio de Janeiro para investigar os atos de vandalismo declarou que o Ministério Público ia denunciar o manifestante por tentativa de homicídio.
“Quem atira um coquetel, um explosivo contra uma multidão, seja de PM, seja de manifestantes, seja de quem for, está assumindo o risco de matar alguém”, afirmou, na terça-feira, o procurador Eduardo Lima Neto. Também na terça, pela manhã, os advogados do estudante conseguiram um habeas corpus. Na decisão, o desembargador Paulo de Oliveira Lanzelloti Baldez afirma que nenhum artefato explosivo foi apreendido com Bruno e que a prisão em flagrante não tinha fundamento idôneo e concreto.
Vídeos mostram prisão
Bruno deu uma entrevista ao grupo Mídia Ninja falando do momento de sua prisão. "Foi na primeira hora que eles fizeram o pessoal correr. (...) Eu queria pedir pra vocês ajudarem a encontrar o vídeo onde eu corri da polícia, e me prenderam e disseram que eu estava com uma garrafa de molotov. Eu não estava", relatou. E um vídeo acabou postado nas redes sociais. Nele, Bruno passa no canto direito do vídeo. Neste momento, não aparenta ter nada nas mãos, nem usa mochila. Um policial e um homem de camisa preta o perseguem. O cinegrafista amador corre para acompanhar a cena: mais à frente, o estudante cai no chão. Um policial chega e usa uma arma não letal contra o peito de Bruno. Ele parece estar desacordado. O vídeo termina com o estudante sendo carregado pelos policiais.
Em outras imagens, Bruno já aparece em pé, sem camisa, cercado por policiais, e com um colete de metal no peito. Um dos policiais militares acusa o rapaz: "Foi ele que tacou o primeiro coquetel molotov". Bruno responde: "Eu tava no posto". Um policial pergunta para outro PM: "Ele é preso de quem?". "Foi o P2 que pegou ele", responde. P2 é como são chamados os policiais que trabalham sem farda, infiltrados entre os manifestantes. Outra dúvida levantada sobre a prisão de Bruno diz respeito a uma mochila que teria sido usada para carregar explosivos.
A imagem de um dos vídeos mostra o momento em que a polícia encontra uma bolsa cheia de coquetéis molotov. O local fica a cerca de setecentos metros de onde Bruno foi preso. Imagens feitas por um cinegrafista da TV Globo mostram que, antes do início dos confrontos, o rapaz não estava com mochila. "Eu não tenho mochila nenhuma. Eu acredito, como eu fiquei na frente lá, falei muito com testemunho, fiquei meio com o rosto marcado, entendeu? E eu não usei máscara, acho que não tenho motivo para usar máscara, no momento em que não tá errado", disse Bruno, na entrevista à Mídia Ninja.
Redes sociais
Depois da manifestação de segunda (22), foram publicados vídeos e relatos publicados nas redes sociais que acusam a PM de ter infiltrado policiais sem farda no protesto para provocar tumulto. O relações-públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, se disse "enojado" com a acusação. Em nota, a PM disse que "imaginar que um policial vá atirar um coquetel molotov em colegas de profissão, colocando suas vidas em risco, é algo que ultrapassa os limites do bom-senso e revela uma trama sórdida para justificar a violência criminosa desses vândalos". Abaixo, veja uma descrição dos vídeos publicados na internet e saiba o que disse a PM:
Vídeo 1: divulgado pela PM


No Twitter, a PM acusou manifestantes de atirar pedras e coquetel molotov em policiais (leia aqui) e divulgou um um vídeo. Nas imagens, é possível ver uma pessoa de camiseta escura, com estampa no meio e com o rosto coberto por um pano branco. Essa pessoa acende um artefato e o atira em direção aos policiais.
Vídeo 2: internauta mostra duas cenas diferentes
                                            


Um outro vídeo, que pode ser visto aqui, mostra uma suposta continuação dessa cena. A montagem começa com as imagens distribuídas pela PM, em que um homem posicionado entre os manifestantes acende e atira um artefato. Após um corte, outra cena mostra dois homens correndo em meio a policiais militares sem serem abordados e um deles tirando a camiseta escura, com estampa.

Vídeo 3: internauta mostra dois homens correndo


Um terceiro vídeo mostra dois homens correndo (veja aqui ). A sequência começa com um grupo de PMs se aproximando deles. Após uma conversa rápida, a dupla passa por vários policiais, sem ser perseguidos. Um deles está com camiseta escura e mochila e outro sem camisa.
Vídeo 4: internauta mostra PMs abordando dupla

Um quarto vídeo ( clique aqui para ver ) mostra aparentemente a mesma cena do terceiro vídeo, mas de outro ângulo e mais próxima. Dois homens de calça jeans, um sem camiseta e outro com camiseta escura e mochila nas costas, passam por um grupo de PMs e são abordados. Um militar fardado ordena: "Senta, senta!". Eles começam a se explicar. Um policial de outro grupo se aproxima e parece interceder pelos dois. Um dos dois homens tira algo do bolso e mostra aos PMs. É possível ouvir a frase: "É polícia, cara". Os ânimos se acalmam e os dois saem do local. O vídeo termina.

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