As dezenas de manifestações registradas em várias partes do Brasil
estão voltadas a problemas crônicos do País, como saúde, educação,
transporte e corrupção. Entretanto, em tempos de Copa das Confederações e
a um ano da Copa do Mundo, os protestos também foram direcionados para a
Fifa. Tal fato rendeu uma reflexão acerca de como tais eventos são
organizados. O jornal alemão Zeit foi além e agradeceu aos brasileiros.
— As principais federações desportivas terão de repensar as suas
condutas. Isso será bom para todos, incluindo atletas e competições, os
quais antes só ficaram às margens nesses grandes eventos. Por isso:
obrigado, Brasil!
A publicação germânica aponta que os brasileiros estão fazendo algo que
os próprios alemães, em 2006, e os sul-africanos, quatro anos depois,
deveriam ter feito: questionar os procedimentos da Fifa quanto à
realização de um evento como a Copa do Mundo. De acordo com o Zeit,
“finalmente uma democracia se levanta contra a Fifa, uma entidade
antidemocrática”.
— Os protestos (no Brasil) não só atestam a maturidade democrática de
um País que foi governado por generais por 30 anos. Eles estabelecem que
até mesmo os gigantes do esporte (futebol) deram um sinal de parada:
(vamos) até este ponto, e não mais.
O jornal relembra as recusas de Viena e Graubünden, na Suíça, em
receberem edições dos Jogos Olímpicos. Pelos valores envolvidos, a
população de ambas as cidades recusaram sediar o evento. Indo de
encontro ao que o secretário-geral da Fifa, Jêróme Valcke, disse
recentemente (“menos democracia, às vezes, é melhor para organizar uma
Copa”), um estudo dinamarquês de 2011 apontou, segundo o Zeit, que
grandes eventos esportivos tendem a encontrar cada vez mais resistência
em democracias. Não por acaso, China, Rússia e Qatar ganharam grandes
eventos do esporte nos últimos anos.
— O Brasil podia ser visto como uma exceção nesse cenário. As
consequências podem ser vistas agora. A Fifa e o COI agora vão se fazer
perguntas, diante das imagens das ruas (...). Os eventos precisam ser
humildes, individuais e transparentes – complementa o jornal alemão.
A sugestão da publicação é exatamente o oposto do que pratica a Fifa e o
COI, com o que o Zeit chama de “gigantismo”. A maneira com que o
governo brasileiro aceitou todas as exigências sem pensar duas vezes
serviu como combustível para a revolta popular, associada aos problemas
sociais do Brasil.
— Os contratos restritivos (da Fifa), no valor de bilhões, preveem um
completo alívio fiscal, além de prever a exclusividade para
patrocinadores bilionários, além de demandas ainda maiores para
estádios, hotéis e aeroportos – conclui o jornal.
Fonte:
R7