Todas as principais
instituições perderam boa parte da confiança dos brasileiros após os
protestos de junho. Mas, entre elas, nenhuma perdeu mais do que a
presidente da República: três vezes mais do que o resto. É o que mostra
uma pesquisa nacional do Ibope, chamada Índice de Confiança Social.
Feita anualmente desde 2009, a edição de 2013 foi divulgada nesta
quinta-feira.
Entre 2012 e julho passado, todas as 18
instituições avaliadas pelo Ibope se tornaram menos confiáveis aos olhos
da opinião pública. É um fato inédito nas cinco edições da pesquisa. O
índice de confiança nas instituições caiu 7 pontos, de 54 para 47, e,
pela primeira vez, ficou na metade de baixo da escala, que vai de 0 a
100. Na primeira edição, em 2009, marcava 58.
“É uma crise generalizada de
credibilidade. Está refletindo o momento do país, os protestos de rua.
Já havia uma queda leve nos anos anteriores, mas agora a perda de
confiança se acentuou”, diz a CEO do Ibope Inteligência, Marcia
Cavallari.
Nenhuma instituição passou incólume pela
onda de protestos. Dos bombeiros aos partidos políticos, das igrejas
aos sindicatos, todas as instituições se tornaram menos confiáveis para a
população – inclusive os meios de comunicação, governo federal,
prefeituras, Congresso e Judiciário. Uns mais, outros menos.
A confiança na instituição “presidente
da República” foi a que mais sofreu. Perdeu 21 pontos em um ano. É três
vezes mais do que a perda média de confiança das 18 instituições
pesquisadas. Em 2010, com Lula no cargo, a Presidência era a 3º
instituição mais confiável, atrás apenas dos bombeiros e das igrejas.
No primeiro ano de governo de Dilma
Rousseff, seu índice de confiança caiu de 69 para 60. Recuperou-se para
63 no ano seguinte, e despencou agora para 42 – uma nota “vermelha”. Em
um ano, saiu da 4ª posição no ranking para a 11ª. Nenhuma outra
instituição perdeu tantas colocações em tão pouco tempo.
O grau de desconfiança em relação à
Presidência varia regionalmente. A queda foi pior no Sudeste, onde a
instituição desabou de 60 para 34 pontos em um ano. Menos ruim foi no
Nordeste, onde caiu de 68 para 54 pontos. Há diferenças entre as classes
de consumo: 36 pontos na classe A/B contra 54 na D/E.
Para Marcia Cavallari, “a Presidência
cai mais por conta da personificação dos protestos”. Segundo a diretora
do Ibope, havia uma grande expectativa na economia que não se realizou.
“Isso acaba se refletindo mais na instituição Presidência”.
O resultado é ainda mais preocupante
para o Congresso e para os partidos políticos. Mesmo sendo os piores do
ranking de confiança das instituições, caíram ainda mais: de 36 para 29
pontos, e de 29 para 25, respectivamente. Mantêm-se nos dois últimos
lugares da classificação desde 2009.
A confiança no sistema público de saúde
sofreu a terceira maior queda, de 42 para 32, e segue na 16ª posição.
Daí candidatos de oposição que sonham disputar a sucessão presidencial
em 2014 começarem a articular suas candidaturas em torno do tema.
A confiança no Judiciário também caiu,
de 52 para 46 pontos, mas como as outras instituições caíram ainda mais,
a Justiça foi da 11º para a 10º posição no ranking. “O Judiciário havia
se recuperado em 2012 por causa do julgamento do mensalão”, lembra a
CEO do Ibope. Sinal de que nem toda queda é irreversível.
“Reversível sempre é, desde que ocorram mudanças perceptíveis, concretas para que essa credibilidade seja recuperada”, avalia.